terça-feira, 25 de outubro de 2011

A dor de quem vai

Quando se ouve a notícia de uma separação surgem inúmeros questionamentos vindos da incompreensão sobre as causas do rompimento, por parte de quem conviveu com o casal, familiares e amigos, e principalmente por quem foi deixado.
Todos se compadecem do deixado e raramente percebem a dor de quem vai. Não existe como comparar, mas ambos sofrem, e me arrisco a dizer que quem deixou sofre mais, porque sofre antes. Enquanto todos acreditam que está tudo bem, quem deixa está sofrendo há muito tempo. É uma dúvida constante, são reflexões e análises internas, para tentar encontrar uma saída que não seja o rompimento e que minimizem a dor dos demais.
Existe a ilusão de que quem deixa é o que se sente melhor, mas não é. No meu caso foram quatro anos até estar certa de que a melhor saída era a separação. E isso não foi fácil nenhum dia e ainda não é.
Todos os problemas subsequentes: a dor de ver o outro e a família sofrendo, a dor da incompreensão e da desconfiança, são martirizantes.
Até decidir pela separação passei muitas noites rezando muito, eu queria muito que não chegasse ao final. Eu fui feliz e não entendia porque não era mais. O que havia mudado em mim ou no outro que havia gerado aquele estado de insatisfação e de infelicidade?
Quando se toma a decisão é porque chegou um momento que não há mais como suportar. Eu não entendia o porquê de tudo estar acontecendo tanto quanto qualquer outro. Eram os meus sonhos e meus projetos que não tinham mais sentido. Parece fútil e egoísta dizer isso. Então a gente procura várias explicações, começa a colocar defeitos no outro, em si mesmo, até se dar conta da “naturalidade” do fato: o AMOR acabou. Até porque num casamento longo como considero que o meu tenha sido, quase dezessete anos, muitos problemas foram enfrentados e vencidos e porque agora que tudo parecia bem, teve que acabar?
Então você pensa em cada momento feliz, em cada conquista, nos grupos a que você pertence, em todas as perdas que isso gera. Mesmo assim você sabe que nada pode lhe manter VIVO na relação.
Normalmente as pessoas custam para entender que não há possibilidade de manter qualquer relacionamento sem amor, apenas pelo hábito. Se alguém consegue, se nossos antepassados conseguiam, eu tiro o meu chapéu, porque é como se sentir enterrado vivo.
É um processo muito longo e triste. Existem várias etapas a serem vencidas. Primeiro pela própria tomada de decisão, onde é preciso ser forte para não ceder às chantagens e críticas e ao mesmo tempo tolerância, afinal as pessoas só querem o teu bem. Algumas vezes o outro se torna um carrasco, não teve tempo para a assimilação então fica rude e malvado, precisa culpar alguém, esse alguém é você. Faz de tudo para boicotar qualquer possibilidade que você tenha de alegria longe dele.
Segundo, você fica perdido, se afasta dos grupos a que pertencia, porque tudo que você não quer é falar sobre o assunto, afinal ele já vinha martelando na sua cabeça há tanto tempo. Você quer algo novo que te tire desse luto. E isso não precisa ser um novo amor ou aventura, mas qualquer coisa que te livre daquela rotina. Também é preciso ser forte para vencer a solidão e reagir ao estado de inanição.
Terceiro você se sente culpado por todos os problemas que surgem da sua decisão, que envolve mudanças de hábitos daqueles que dependem de você, mas que não tiveram nada a ver com a sua decisão. Mesmo sendo uma mulher independente, organizada e que sempre tomou conta de todas as finanças da casa isso se torna um peso, afinal o outro vai estar lhe boicotando também. A falta de contribuição é a primeira arma usada. Aí você precisa ter muito jogo de cintura. E você perde muito, porque acaba tirando ainda mais de si para que não falte muito para os demais.
Depois de quase três anos dando explicações e tentando “convencer” as pessoas de que o acontecido não teria volta, e de que eu não estava louca, as coisas começam a se organizar.
É preciso muita paciência, compreensão, diálogo, respeito pelos seus sentimentos e pelos dos outros, para não transformar uma história bonita com um final trágico e ainda mais doloroso.
Mais uma vez eu aprendi que nada como o tempo para colocar toda a desordem em um novo lugar. Hoje costumo dizer que não foi uma relação que deu errado, deu certo sim e muito, enquanto durou. Vai fazer parte das histórias de cada um dos envolvidos, e o melhor que seja lembrada com gratidão por todas as coisas boas que resultaram dessa união, especialmente os filhos.
Há essa altura das minhas experiências de vida já consigo entender que não existe certo ou errado ou uma única verdade. Pessoas erram sim, em seu processo de evolução, mas ninguém erra com a intenção ou sozinho. Todos procuram dar o seu melhor para um bem comum. Mesmo que seja optar pelo fim de uma relação.


мα∂α ' Outubro de 2011

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